Brasil

Protesto de caminhoneiros pressiona o Planalto sobre preço dos combustíveis

A paralisação de caminhoneiros em ao menos 20 unidades da Federação forçou o governo federal a intensificar os diálogos em torno de medidas para baratear o preço dos combustíveis. Há um grande descontentamento do Palácio do Planalto com a constante alta da gasolina e do diesel nos postos, já que a queda da inflação é um dos principais argumentos do Executivo para reforçar a melhora da economia. Apesar disso, o discurso de redução de tributos, defendido por parte da cúpula do MDB, esbarra no entendimento da equipe econômica, que reforça não ter espaço para cortes de arrecadação.

Depois que várias rodovias foram ocupadas pelos caminhoneiros na manhã e tarde de ontem, o presidente Michel Temer convocou uma reunião de emergência para tratar do assunto. Não é para menos a preocupação da cúpula do Planalto. Os preços elevados da gasolina e do diesel arrocham o orçamento das famílias, comprometem os ganhos de transportadores e nada disso contribui para uma melhora na imagem eleitoral do MDB.

Os manifestantes pedem redução de impostos sobre o diesel e a gasolina. Também questionam a política de preços da Petrobras, que, seguindo a variação internacional do petróleo e do dólar, resultou em constantes reajustes (veja quadro). A avaliação governista é de que o caminho para reduzir a rejeição e melhorar a popularidade passa, inevitavelmente, das discussões sobre como diminuir os custos desses insumos.

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, ressaltou que os aumentos dos combustíveis decorrem de fatores internacionais, como a alta do dólar e do barril do petróleo. Ele se esquivou ao falar sobre a diminuição de tributos e destacou que hoje haverá uma reunião técnica sobre o tema. O encontro será entre os ministros da Fazenda, Eduardo Guardia, e de Minas e Energia, Moreira Franco, com a presença do presidente da Petrobras, Pedro Parente, que não participou das discussões de ontem.

“A situação vai ser analisada com responsabilidade. Nós sabemos que uma política equivocada de preços foi uma das razões que quase levaram a Petrobras à bancarrota”, disse Marun. O ministro também refutou a ideia de que haja um conflito entre a equipe econômica e o Planalto. “Não existe divisão. É unânime a preocupação com a questão. O que se busca é a tomada de decisões responsáveis que não venham a agravar o problema”, pontuou.

Previsibilidade

Há um desejo de encontrar mecanismos que garantam mais previsibilidade dos reajustes. “O dólar e o preço do barril de petróleo estão subindo. Por certo, tínhamos que ter aumento dos combustíveis. Mas o presidente quer ver se encontramos um ponto de equilíbrio para trazer aos interessados, brasileiros e transportadoras, mais previsibilidade para o que vai acontecer”, explicou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Antes da reunião, Guardia garantiu a jornalistas estrangeiros, durante teleconferência, que não há espaço no orçamento para redução de tributos. “Todos nós sabemos que não temos flexibilidade do lado fiscal, estamos no meio de um processo de consolidação fiscal”, afirmou. “Não podemos nos dar ao luxo de ter redução nas receitas tributárias neste momento”, alegou. Especialistas em contas públicas também reforçam que a diminuição de impostos será ainda mais prejudicial para as contas públicas.

Há, no entanto, a sinalização do governo em emplacar uma agenda positiva que possa, ao menos, amenizar a insatisfação de consumidores e empresários. Há duas semanas, o presidente Michel Temer pediu que Moreira Franco encomendasse estudos para viabilizar o barateamento do preço do diesel e da gasolina. Apesar da pressão dos manifestantes, o martelo não deve ser batido tão rapidamente, segundo Padilha. “Ao convocar (a reunião), o presidente mostrou-se preocupado com o aumento constante e disse que gostaria de ver isso resolvido da forma mais rápida possível para o cidadão e caminhoneiros”, destacou.

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