Negócios

Marcas de cervejas artesanais cresceram 130% nos últimos cinco anos

A psicóloga Fernanda Querino Pernica, de 31 anos, moradora de Paraguaçu Paulista (SP), decidiu trocar a rotina do consultório por uma antiga paixão: a cerveja. Por influência dos pais, Gilberto e Rosi, donos de um tradicional restaurante da cidade, o Suspiro, ela começou a produzir sua própria bebida, com a marca Maria Bravura.

Como o próprio nome sugere, além das características de sabor de uma cerveja produzida em pequena escala, o rótulo quer transmitir as mensagens do empoderamento feminino e da quebra de preconceitos. “Encontrei um outro caminho profissional, e fiz dessa paixão algo que hoje também me faz feliz”, afirma Fernanda que, atualmente, produz cerca de 1.500 litros por mês.

“Não pretendo aumentar a produção para não perder o encanto da produção artesanal. Não faria sentido”, acrescenta a “brava” empresária cervejeira. Ela mesma seleciona os ingredientes e executa a tarefa de misturar as quantidades de malte, o lúpulo e suas matérias-primas secretas. “Meu  diferencial é o segredo que não se conta”, diz Fernanda, que divulga seus produtos e sua filosofia no Instagram e no Facebook.

Histórias como a de Fernanda, cada uma com suas particularidades, são cada vez mais comuns no mercado brasileiro de cervejas. Tanto é assim que neste ano, de janeiro a setembro, o setor evoluiu 23% no Brasil e deve continuar crescendo até o fim deste ano, segundo levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Nos últimos cinco anos, o mercado de cervejas artesanais avançou 130%. Existem, atualmente, pelo menos 835 negócios e quase 170 mil produtos, que respondem por 1,5% do mercado nacional. No ano passado, eram 679 microcervejarias e faturamento de R$ 130 bilhões, de acordo com o estudo.

Em número de unidades fabris no país, o Sul lidera, com 369 plantas artesanais, seguido do Sudeste (328). Num outro pelotão de empresas, o Nordeste tem 61 unidades; o Centro-Oeste, 51, e o Norte,  26. Quanto ao ranking estadual, a liderança é do Rio Grande do Sul (179), tanto em ranking de cervejarias quanto na densidade — proporção de cervejarias por habitante.

Experiências 

São Paulo fica em segundo (144) e Minas Gerais (112) em terceiro, seguido de Santa Catarina (102), Paraná (88), Rio de Janeiro (56), Goiás (25), Pernambuco (18), Espírito Santo (16) e Mato Grosso (12). “Ainda é um nicho do mercado, mas o consumidor é fiel”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), Carlo Lapolli.

Segundo Lapolli, o surpreendente crescimento do setor é alimentado pela criatividade e pela constatação de que as pessoas incluíram a bebida artesanal no rol dos hábitos familiares de consumo. “O público experimenta e percebe diferenças entre as marcas artesanais e as comerciais”, afirma Lapolli, que também ressalta que o aumento da oferta avança à medida em que o brasileiro procura descobrir novos sabores e experiências.

Não por acaso, o executivo prevê um total de 1 mil fábricas da bebida artesanal em funcionamento no próximo ano. Apesar da inegável expansão do setor de cervejas artesanais, Lapolli reclama de alguns obstáculos, principalmente os pesados encargos.

A tributação desigual sobre um mesmo produto, especialmente do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que vai de 35% em uma região para até 80% em outra, faz com que a mesma cerveja custe R$15 em Santa Catarina e de R$ 25 a R$ 30 no Distrito Federal. “Sem essa disparidade, o setor poderia crescer muito mais, gerar mais impostos e empregos”, afirma.

As estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) endossam esse argumento e expõem o impacto positivo das pequenas cervejarias artesanais na economia brasileira. No primeiro quadrimestre do ano, as empresas menores — de até 99 funcionários — acumularam saldo favorável de 400 vagas disponibilizadas e as maiores geraram 351 oportunidades.

O destaque fica para Santa Catarina, que abriu 86 postos de trabalho. Ainda no grupo dos estados mais representativos para o setor, estão Rio Grande do Sul (81) e Minas Gerais (37). Só Amazonas e Mato Grosso do Sul perdem na geração de empregos em empresas de pequeno porte. “Ainda podemos crescer muito, mas temos consciência de que a demanda do consumidor virá, por enquanto, principalmente das classes A e B”, afirma o presidente da Abracerva.

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