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Documentário mostra alegações de abusos de Michael Jackson

Dez anos depois de sua morte, o legado de Michael Jackson passa por uma nova reavaliação com as chocantes denúncias do documentário Deixando Neverland. O filme será exibido em duas partes, na HBO, neste sábado (16) e domingo (17) sempre às 20h, e no HBO GO, a plataforma de streaming da emissora.

O documentário é construído com o depoimento de James Safechuck e Wade Robson. Os dois alegam que Jackson abusou sexualmente deles nos anos 1990.

Diferentemente dos documentários recentes sobre O.J. Simpson (O J.: Made in America, de 2006) e R. Kelly (Sobreviver a R. Kelly, deste ano), o filme da HBO se concentra no depoimento das vítimas (e das famílias), com imagens do rancho de Michael Jackson em Santa Bárbara, o Neverland, e conteúdo de arquivo, incluindo uns poucos depoimentos do cantor e fotos e objetos das famílias. Deixando Neverland se diferencia, nesse aspecto, das denúncias jornalísticas do movimento #MeToo, caracterizadas por extensa apuração documental e com testemunhas.

Não é por isso que os depoimentos deixam de ser nauseantes, especialmente pela descrição gráfica dos supostos abusos. Essas são suas histórias.

Pela dica de uma amiga, a mãe do jovem James Safechuck o inscreveu numa agência de talentos. A desenvoltura do garoto o levou ao set de comerciais nacionais, e em um deles ele contracena com Michael Jackson. Uma amizade se criou e as promessas de ajudar na carreira do garoto aproximaram o artista da família. “Jimmy” passou a dançar nos shows de Jackson.

O abuso teria começado numa noite em Paris (Jackson insistiria para que a mãe do garoto, então com 10 anos, dormisse no quarto dele nos hotéis). Safechuck diz que o cantor o ensinou a se masturbar – e logo as interações passaram a envolver línguas, nádegas, mamilos e pênis. Depois de nomear dezenas de locais em Neverland onde Jackson o abusaria e falar de um sistema de sinos que avisaria se alguém estivesse se aproximando do local, ele mostra à câmera joias que o músico teria lhe presenteado após uma “cerimônia de casamento” num quarto de hotel.

Tudo mudou para Wade Robson quando ainda muito criança assistiu ao making of de Thriller: ali ele começou sua carreira na dança que, anos depois, lhe renderia trabalhos com Britney Spears, N’Sync e o Cirque du Soleil. Astro mirim na Austrália, seu país natal, por sua imitação de Jackson, conheceu o cantor num show em Brisbane. O artista começa a se relacionar com a família e vira amigo do garoto (as ligações por telefone chegavam a seis horas) até que os convence a ir a Neverland.

Segundo Wade, já no primeiro dia, os contatos físicos começaram, primeiro para ensiná-lo passos de dança, e em seguida as “festas do pijama” se transformavam em abuso: ele descreve com detalhes carícias por debaixo dos lençóis, masturbação e sexo oral (ele tinha 7 anos e diz ter sido abusado todas as vezes em que eles se encontraram nos 7 anos seguintes).

Ambos relatam em Jackson uma preocupação constante em não contar nada para ninguém. “Minha vida vai acabar se alguém descobrir”, relata Safechuck, citando o cantor.

Wade narra sua última experiência: ele era adolescente quando Jackson teria tentado penetrá-lo. A tentativa foi malsucedida e Wade voltou para casa. No mesmo dia, Jackson teria mandado seu motorista ir buscá-lo novamente e, quando se encontraram, na memória de Wade, ele estava muito agitado e pediu pela cueca que o menino usava mais cedo. O garoto foi para casa, encontrou a cueca com algumas gotas do seu sangue, e a jogou no lixo a pedido do cantor.

A segunda parte do documentário conta como o histórico afetou as vidas de todos e sublinha como eles só conseguiram revelar o trauma para as famílias quando ambos tiveram filhos em seus casamentos.

Mesmo antes disso, Jackson passou por duas situações judiciais em que outras famílias o processaram por abuso sexual: em 1993, um acordo extrajudicial foi acertado (valores oficiais não foram divulgados, mas acredita-se que a cifra seja de US$ 25 milhões). Em 2005, um julgamento criminal absolveu o cantor. Robson foi testemunha de defesa na ocasião (bem como Macaulay Culkin, que sempre negou abusos do cantor). No filme, Robson relata o intenso debate interno pelo qual passou ao longo dos anos (e ainda passa), e afirma “não ter culpa” por ter mentido no julgamento.

As reações ao documentário Deixando Neverland

Desde que o filme foi exibido nos EUA, no início do mês, diversas reações tiveram repercussão global – contra e a favor de Jackson.

LOUIS VUITTON

A marca de luxo resolveu apagar as referências a Michael Jackson na coleção dirigida por Virgil Abloh apresentada em janeiro.

MJ IS INNOCENT

A campanha iniciada por Seany O’Kane, fã de Jackson, teve alcance global (no último domingo, dezenas de fãs se reuniram na Avenida Paulista numa manifestação clamando a inocência do músico). “O filme omite informações para pintar uma narrativa”, diz O’Kane. Ele atribui os depoimentos a um suposto racismo de Safechuck e Robson e à vontade de arrancar dinheiro do espólio.

SIMPSONS

Um episódio antigo da série, com a voz de Michael Jackson, foi retirado do ar pelos criadores.

DRAKE

O rapper deixou de fora do setlist da sua turnê na Europa a música Don’t Matter to Meque ele canta com vocais gravados de Jackson. A música fazia parte das apresentações nos EUA.

RÁDIOS

Rádios de Canadá, Austrália e Nova Zelândia tiraram suas músicas da programação.

PROCESSO

O espólio de Jackson processou a HBO em US$ 100 milhões.

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