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Bancos de cordão umbilical e placentário geram produtos contra males em recém-nascidos

O Brasil integra uma rede mundial de bancos de sangue de cordão umbilical e placentário, que são destinados a coleta, processamento e criopreservação de células-tronco hematopoiéticas para transplante. Ao serem transplantadas, essas células-tronco induzem a produção de células saudáveis pela medula óssea, importantes no combate a diversas doenças, como leucemia aguda, leucemia mieloide crônica, linfomas, anemias graves e congênitas, entre outras.

Um projeto que reúne equipes da Unesp e da Unicamp busca otimizar as atividades exercidas por esses bancos de sangue, possibilitando que eles sejam também a fonte para a produção e fornecimento de produtos de grande relevância para o tratamento de recém-nascidos prematuros.

Atualmente, em todo o mundo, existem mais de 100 bancos de sangue de cordão umbilical e placentário. Desde que foram regulamentados nos Estados Unidos e na Europa, nos anos 1990, esses locais receberam cerca de 700 mil unidades de sangue de cordão umbilical doadas com o consentimento de mães saudáveis. Esse material é armazenado após um processo de criopreservação, no qual células ou tecidos são preservados por meio de congelamento a temperaturas muito baixas (geralmente -196ºC).

A criação dos bancos de sangue de cordão umbilical e placentário – que podem ser públicos ou privados – contribuiu muito para aumentar a disponibilidade de doações de células-tronco hematopoiéticas. No entanto, suas atividades apresentam problemas, especialmente pelo alto custo para coleta, processamento e armazenamento do material, além de baixo número de transplantes realizados a partir do acervo armazenado. Além disso, o sucesso do transplante de células-tronco hematopoiéticas depende do número de células coletadas, que muitas vezes é inferior ao necessário para realização do transplante.

Por isso, uma expressiva parcela desse valioso recurso sanguíneo costuma ser descartada, embora tenha potencial para permitir outros usos. Por ser rico em células e componentes proteicos, esse material há anos vem sendo aplicado em diversos processos terapêuticos, como na hemoterapia, terapia celular e medicina regenerativa.

Rede BrasilCord – No Brasil, existem 13 bancos públicos, que integram da Rede BrasilCord. Com financiamento da Fapesp, o projeto conjunto da Unesp e da Unicamp tem como objetivo receber o material que não é utilizado pelos bancos dessa rede, promovendo o processamento, a validação e a garantia de qualidade dos componentes celulares e proteicos obtidos. De acordo com suas características, esses componentes podem ser destinados ao tratamento de recém-nascidos de extremo baixo peso internados em unidades de terapia intensiva, por meio de transfusões de sangue.

O projeto tem como coordenadoras Elenice Deffune, médica hemoterapeuta e professora do Departamento de Urologia da Faculdade de Medicina (FM), câmpus da Unesp em Botucatu, e Ângela Cristina Malheiros Luzo, diretora médica do Serviço de Transfusão e Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário do Hemocentro de Campinas, da Unicamp.

Integrante do projeto, Mariane Aparecida Risso concluiu em agosto de 2018 seu Mestrado Profissional em Pesquisa e Desenvolvimento – Biotecnologia Médica na FMB/Unesp, voltado para o controle de qualidade do concentrado de hemácias de doadores de sangue adultos. Paralelamente ao mestrado, Mariane desenvolveu um estudo retrospectivo sobre o aproveitamento e a desqualificação de bolsas de sangue de cordão umbilical e placentário colhidos pela Rede BrasilCord.

Em setembro do ano passado, Mariane apresentou essa análise no Congresso Internacional de Sangue do Cordão, Cord Blood Connect, realizado em Miami Beach, Flórida, nos Estados Unidos. O trabalho teve grande repercussão e foi publicado numa edição especial da revista Stem Cell Translational Medicine, que tem fator de impacto 4,00, conjuntamente com os outros resumos apresentados no evento.

A participação no congresso foi uma experiência marcante para a pós-graduanda. “Esse evento foi o primeiro encontro internacional voltado para a conexão dos pesquisadores dos bancos de sangue de cordão umbilical e placentário, reunindo participantes de mais de 30 países”, comenta. “O aprimoramento da utilização desses bancos de sangue hoje é uma questão muito relevante em nosso setor”, ressalta Mariane, que atualmente realiza seu doutorado na Unicamp, focalizando o processamento e o controle de qualidade de concentrado de hemácias do sangue de cordão umbilical e placentário.

Importância dos hemocomponentes – Recém-nascidos prematuros apresentam problemas como a anemia da prematuridade, com complicações que podem ser resolvidas rapidamente por meio de transfusões sanguíneas. O tratamento desses bebês pode ser realizado, por exemplo, com o uso de concentrados de hemácias (células responsáveis pela cor vermelha do sangue e muito importantes na oxigenação celular dos tecidos do corpo), que é obtido pelo processamento do sangue de cordão umbilical e placentário.

O projeto coordenado por Elenice e Ângela está promovendo o processamento de hemocomponentes, que são produtos gerados individualmente nos serviços de hemoterapia, a partir do sangue total, obtidos pelo fracionamento do sangue em hemácias, plaquetas (células do sangue produzidas pela medula óssea e responsáveis pela coagulação sanguínea) e plasma (parte líquida do sangue). Isso envolve processos como centrifugação e congelamento do material. Entre os hemocomponentes estão o concentrado de hemácias, o concentrado de plaquetas e plasma rico em fatores de crescimento, que, depois de sua validação – que abrange desde o processamento até o controle de qualidade dos hemocomponentes –, poderão ser usados em tratamentos de recém-nascidos prematuros.

O sangue de cordão umbilical e placentário é considerado um material nobre por suas características imunológicas, infecciosas e por conter o mesmo tipo de hemoglobina de receptores recém-nascidos, isto é, hemoglobina fetal. “O aproveitamento desse material tornaria o custo dos bancos da Rede BrasilCord mais razoável e a manutenção de sua infraestrutura mais lógica, dentro do contexto de assistência à saúde brasileira”, afirma a professora Elenice.

 

 

 

 

 

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