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Após ataque, franceses vão às urnas em 1º turno de eleição presidencial imprevisível

Com medidas de segurança reforçadas, os franceses vão às urnas neste domingo (23) para escolher o presidente que vai suceder o socialista François Hollande. A disputa aumentou nas últimas semanas e as pesquisas mostram que, apesar de o centrista Emmanuel Macron aparecer na liderança, quatro candidatos têm chances de ir ao 2º turno.

Outra dúvida que pesa sobre o primeiro turno da eleição é se o ataque na Avenida Champs Élysées, que deixou um policial morto e dois feridos, na quinta-feira (20), terá algum impacto na votação, que já era apontada como a mais imprevisível dos últimos 50 anos. Mais de um terço dos eleitores franceses se dizem indecisos e, com isso, o nível de abstenção deve ser alto (em torno de 30%).

Embora Macron siga favorito a vencer o primeiro turno, a candidatura dele e da sua principal rival, a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, perderam fôlego às vésperas do pleito, segundo pesquisa Cevipof divulgada pelo jornal “Le Monde” na quarta-feira (19).

Por outro lado, a ascensão na última etapa da campanha do candidato da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon, e do conservador François Fillon faz com que os quatro candidatos tenham chances de ir ao 2º turno, que acontece em 7 de maio.

O ataque na avenida mais famosa da capital francesa colocou a segurança nacional no topo da agenda. Candidatos com pontos de vista mais duros sobre segurança e imigração, como Len Pen e Fillon, podem ganhar um impulso maior entre alguns grupos de eleitores.

Após o ataque, o governo afirmou que houve a mobilização das forças de segurança, incluindo unidades de elite, para apoiar os 50 mil agentes e 7 mil militares destinados a garantir a tranquilidade dos cidadãos durante a eleição. Dois dias antes do tiroteio em Champs Elysées, a polícia prendeu em Marselha, sul da França, dois homens suspeitos de planejar um atentado.

 A União Europeia acompanha com atenção a eleição na França neste momento em que o Reino Unido dá início à saída do bloco. Os europeus observam o desempenho dos candidatos da extrema direita e da esquerda que fazem críticas à UE e propõem mesmo a realização de um plebiscito para decidir sobre a permanência da França no bloco que ela fundou ao lado da Alemanha.

Campanha tumultuada

A campanha presidencial foi tumultuada desde o início, quando as primárias partidárias tiveram resultados inesperados, afastando os principais favoritos à presidência – o conservador ex-presidente Nicolas Sarkozy e ex-primeiro-ministro Alain Juppé (do Republicanos) e Manuel Valls (Partido Socialista).

A ascensão do movimento, “En Marche!”, de Macron, e escândalos de corrupção envolvendo Marine Le Pen e François Fillon também contribuíram para tumultuar a campanha.

Marine Le Pen

Com retórica anti-imigração e contra a União Europeia, a candidatura de Marine Le Pen ganha força por causa do descontentamento dos eleitores com o governo do socialista François Hollande.

Marion Anne Perrine Le Pen, de 48 anos, é a presidente da Frente Nacional, partido fundado pelo seu pai, Jean-Marie, sigla que ganhou espaço principalmente desde as últimas eleições presidenciais. No primeiro turno de 2012, Marine conseguiu um índice surpreendente de votos para a extrema direita (18,12%), mas perdeu a vaga no 2º turnopara o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que acabou perdendo para Hollande.

Emmanuel Macron

Enquanto François Fillon sofre as consequências do escândalo envolvendo sua mulher, o centrista Emmanuel Macron, de 39 anos, surgiu como candidato que poderia derrotar Le Pen em um segundo turno.

Filhos de médicos que atuam na saúde pública, ele nasceu em Amiens, no norte da França. Trabalhou em um banco de finanças e se engajou na campanha de François Hollande em 2012. Tornou-se secretário-adjunto e, então, o ministro da Economia do governo Hollande.

É de sua autoria o projeto de lei que pretende impulsionar a economia francesa por meio de medidas como ampliação do trabalho dominical e da modificação das condições do exercício de várias profissões liberais, como os tabeliães e os oficiais auxiliares de Justiça. A “Lei Macron”, como ficou conhecida, foi implementada por decreto e provocou protestos até de integrantes do Partido Socialista. Foi a primeira vez desde 2006 que o governo driblou o legislativo para impor uma lei.

François Fillon

O candidato François Fillon, do partido de direita Republicanos (antigo União por um Movimento Popular, UMP), chegou a ser apontado como favorito para suceder Hollande na presidência. No entanto, um escândalo de corrupção em que sua mulher está envolvida lançou sua campanha em uma profunda crise.

Fillon, de 62 anos, foi acusado de dar a sua esposa um cargo fantasma na Assembleia Nacional. O jornal “Canard Enchaîné” revelou que ela recebeu durante 8 anos como sua assistente. A prática não é ilegal na França, mas o periódico questiona se ela realmente desempenhou a função. O caso está sendo investigado, mas, nos bastidores da campanha, os caciques do partido se mobilizaram para lançar um novo candidato.

Jean-Luc Mélenchon

O candidato da extrema-esquerda francesa, Jean-Luc Mélenchon, de 66 anos, cresceu nas pesquisas faltando poucos dias para a votação, o que preocupou o mercado financeiro e o poderoso sindicato patronal francês, o Medef. Ele é visto como o oposto no espectro político da ultra-direitista, Marine Le Pen.

Nascido no Marrocos, Mélenchon se formou em filosofia e atuou como jornalista. Em Besançon, ele se engajou profundamente nas célebres manifestações de maio de 1968, que tiveram repercussão mundial. Na França, a revolta começou com o protesto de estudantes contra o fechamento da universidade de Nanterre, na região Pariense, e se espalhou por todo o país.

Benoît Hamon

O socialista Benoît Hamon, de 49 anos, nasceu em Saint Renan e se formou em história na Universidade de Brest, no norte da França. Cedo se engajou no Partido Socialista e foi criador, em 1993, do movimento da juventude socialista. Ele foi assessor de Martine Aubry, então ministra do presidente Lionel Jospin.

Hamon, que foi ministro da Educação, rompeu com Hollande em 2014, descontente com a guinada liberal do governo socialista. Ele se opôs à reforma trabalhista proposta por Macron durante o governo Hollande. Em agosto, lançou-se na corrida presidencial defendendo “um novo modelo de desenvolvimento” e retomando algumas propostas esquecidas por Hollande.

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